A construção e a operação de edifícios representam aproximadamente 50% do consumo de recursos naturais, 36% do consumo de energia e 37% das emissões de CO2 globais. É urgente mitigar os impactos negativos sobre o meio ambiente, em especial a emissão de gases de efeito estufa para combater as mudanças climáticas. Trata-se de um grande desafio, sobretudo se considerarmos que ainda há muito o que se construir no Brasil, para superar o déficit habitacional e de infraestrutura e atender a uma população ainda em crescimento.
Para superar esse desafio, é necessário considerar o desempenho ambiental da construção em todas as decisões, tais como o desenvolvimento de projetos, a seleção de fornecedores de materiais de construção, a gestão das obras, a operação e manutenção das edificações em uso, a destinação dos resíduos gerados na construção, manutenção e no final da vida das edificações, e a elaboração de políticas públicas. Além disso, é necessário considerar a variável ambiental para todos os tipos de empreendimento, e não apenas em algumas edificações ditas “sustentáveis”; caso contrário, não será possível atingir metas de redução de impacto ambiental compatíveis com um padrão de desenvolvimento sustentável.
Para isso, são necessárias métricas de avaliação do desempenho ambiental da construção simples, objetivas, confiáveis, que levem em consideração o ciclo de vida das edificações e que sejam de fácil entendimento e adoção pelos agentes do setor. Nesse contexto, foi desenvolvido o Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção (Sidac), um sistema para cálculo de indicadores de desempenho ambiental de produtos de construção com base em dados brasileiros de forma prática.
O Sidac adota a abordagem de ciclo de vida. Sendo assim, os produtos de construção resultam de processos encadeados entre si, denominados “processos elementares”. Cada processo elementar é descrito como um conjunto de entradas (matérias[1]primas, eletricidade, água, combustíveis) e saídas (produtos, resíduos, efluentes, emissões atmosféricas). As entradas e saídas podem estar relacionadas a outros processos elementares (por exemplo, matérias-primas beneficiadas ou resíduos destinados a processos de tratamento), os chamados “fluxos de produto”; ou serem originárias da ou destinadas à natureza (por exemplo, água extraída diretamente de um poço ou emissão de CO2 para a atmosfera), os chamados “fluxos elementares”.
As quantidades dos fluxos de entrada e saída de cada processo necessárias para produzir uma unidade declarada de produto dão origem ao inventário do processo (por exemplo, quantos kg de cimento são necessários para produzir 1 m³ de concreto). Ao vincular o inventário do processo elementar aos inventários dos processos que o precedem (ou sucedem, no caso da disposição de resíduos), calculam-se os indicadores de desempenho ambiental do produto, do berço ao portão (por exemplo, quantos kg de CO2 são emitidos para produzir 1 m³ de concreto).
A simplificação da ACV adotada no Sidac diz respeito ao cálculo dos indicadores de desempenho ambiental do produto: o Sidac calcula indicadores de inventário a partir da consolidação de fluxos elementares, enquanto a ACV calcula indicadores de potencial de impacto ambiental utilizando “modelos de caracterização”. Por exemplo: enquanto o Sidac soma todas as emissões de CO2 ao longo do ciclo de vida do produto, a ACV considera todos os gases de efeito estufa (CO2, CH4, N2O etc.) e multiplica suas quantidades pelos respectivos fatores de caracterização para calcular o indicador de potencial de aquecimento global (expresso em kg CO2 equivalente).
A abordagem simplificada do Sidac facilita a coleta de dados primários de inventário, ao reduzir a quantidade de informações requeridas dos processos de produção. Além disso, são dados fáceis de serem obtidos, pois representam os principais fluxos de massa e de energia, que geralmente são medidos pela indústria e, no caso do CO2, sua emissão pode ser estimada usando fatores publicamente disponíveis. Por outro lado, a extensa lista de fluxos requerida para calcular os indicadores da ACV requer medições de poluentes atualmente não exigidas pela legislação ambiental brasileira. Ademais, os indicadores previstos no Sidac cobrem os principais aspectos ambientais da construção e se correlacionam com os impactos ambientais avaliados na ACV.
Fonte: site do SIDAC (www.sidac.org.br)
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